sexta-feira, 20 de agosto de 2010

V

- Laura Kingley?

A professora chamou-me e pude perceber que ela reprimia um sorriso. Lentamente, levantei-me da minha carteira e caminhei por entre dezenas de pares de olhos curiosos que me acompanhavam, talvez mais interessados em saber minha nota na prova do que eu. Cheguei até a professora, que sussurrou um “Parabéns” enquanto entregava a nota máxima na prova de matemática. Ela não gostava que os alunos disséssemos nossas notas, mas era inevitável. Quando encarei os alunos, rapidamente me perguntaram quanto eu tinha tirado.

- A+. – Eu disse, tentando reprimir um sorriso. Não queria mostrar tanta felicidade, mas não queria fingir normalidade, apesar de encarar as coisas desse jeito.

Recebi alguns elogios, sorrisos e congratulações quando cheguei até minha banca. Eu estava muito feliz.

Internamente, eu me orgulhava, colocava-me num pódio. Eu era a melhor de todos ali. A mais inteligente, a mais esperta, eu era a melhor. Fingia humildade, pedia para pararem com os elogios, mas na verdade eu os adorava! Porque era verdade. Eu era demais.

Voltando para casa na minha bicicleta, eu sorria internamente por meus resultados. Eu tinha sido recompensada por meus esforços. Aqueles dias com a cara enfiada no livro não tinham sido em vão. Enquanto me vangloriava por isso, senti uma coisa aterrissar em meu braço. Uma coisa gelada, mole e gosmenta.

Um passarinho tinha feito cocô em mim!

Por acaso ele sabia em quem estava defecando? Eu tinha tirado A+ em matemática! Ouviu, seu passarinho imbecil? Mudei minha rota até uma praça não muito longe, e fui até a torneira. Então, comecei a pensar. O que era um A+ em matemática, senão minha obrigação? Isso me fazia uma pessoa melhor? Eu era tão inteligente assim? Não, não era. Tenho certeza que se colocassem uma prova de uma série maior em minha frente, eu não conseguiria resolver. Eu só absorvi o que o professor tinha passado em sala de aula, e isso não me fazia uma pessoa melhor. Na verdade, aquilo tudo não importava. Não importava mesmo se eu fosse a melhor da minha sala, haveria sempre alguém acima de mim. Não importava o quanto eu me achasse inteligente, haveria sempre alguém muito mais do que eu. Haveria sempre alguém disposto a fazer cocô no seu braço.

Depois de tanto refletir, dei de ombros e lavei meu braço. Pra dizer a verdade, aquilo é que não importava mesmo. Porque afinal, eu tinha tirado A+ em matemática.

Um comentário:

  1. Ficou muito bom! mas Esse A+ é muito cessão da tarde.(Talvez esse cessão esteja escrito errado)

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