- Acho que devemos terminar.
Carolina fitava-o com descrença. “Devemos terminar...?“. Entreabriu os lábios, mas não emitiu som. Terminar, o quê? Havia começado algo? Há quanto tempo estava num relacionamento sem perceber? Aliás, o que a impedia de perceber este fato? Por alguns segundos teve medo de que sua indiferença o estivesse machucando todo esse tempo. Logo após percebeu que não se importava. Talvez fosse esse o problema. Ela não se importava. Será que todo esse tempo ele havia se envolvido... E ela não? Enquanto perdia-se em seus pensamentos, a voz dele quebrou o silêncio.
- Às vezes parece que você me evita.
Sua resposta foi imediata.
- Não te evito.
Logo após arrependeu-se do que havia dito. Isso soava como se ela não quisesse que terminasse – terminar o quê? -, parecia que estava fazendo questão, e ela não fazia. Mas talvez o correto fosse fingir que fazia. Se já o havia machucado por tanto tempo sem perceber, não queria fazê-lo novamente, mostrando o quão descartável ele era.
- Evito maiores sentimentos. Mas não você.
- Por quê? Qual o seu medo?
- Quanto menor o vôo, menor a queda.
- Tem medo de se machucar?
Não. Carolina não se envolvia o suficiente para se machucar. Ela não se importava, era fria e indiferente.
- Sim.
Antes que ele pudesse dizer algo, fazer promessas que sabia que não podia cumprir, ou que viesse com inúteis tentativas de mudar seu jeito de ser, apressou-se em concluir.
- Então talvez você esteja certo.
- Acho que podemos dar uma chance a nós. Se eu puder te mostrar que não vou te magoar...
- Não.
- Por quê? Se o problema é em você, poderemos consertar isso...
- Não sou eu. É você.
- Eu?
- Sim, você.
- Não sou suficiente bom pra você?
- Não.
Ele suspirou e comprimiu os lábios.
- Por quê? O que falta?
Carolina olhou a hora no relógio de pulso, colocou seus óculos escuros e levantou-se da mesa.
- Tem razão. Acho que devemos terminar.
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