- Tom, posso ver Hannah Montana agora? – Any me perguntou, pela enésima vez.
A encarei um pouco irritado. Na verdade, a encarei muito irritado. Porque de novo ela estava com aquele sorriso mais falso do que os cabelos da coleção de barbies paraguais dela estampado na cara.
- Eu estou vendo o canal de esportes agora – grunhi em resposta, olhando para o jogo de Manchester City e Liverpool com muito interesse. A verdade é que o jogo estava uma porcaria, eu só queria irritar a chata da Any mesmo. Garota insuportável que nunca me deixava em paz, como eu podia ter um ser desses na família? Priminha Any pra cá, priminha Any pra lá… que mané priminha! Aquilo era um carma na minha vida. Revoltante. Em meus 12 anos de existência era um exercício conviver com aquela criatura, mesmo que por um curto período de férias.
- Mas Thomas – ela disse, e dessa vez o veneno escorreu por sua boca. – Eu quero ver Hannah Montana! – e bateu o pé no chão.
Nem a encarei. Tomara que faça um buraco no chão e tio Alphonse deixe ela sem ver Hannah Chata Montana por um mês.
- Mas não vai ver – eu abri um sorrisinho atrevido, satisfeito com meu pensamento maquiavélico.
E então aconteceu. Eu a ouvi fazer algum som estranho e no instante seguinte ela estava tentando furiosamente tomar o controle da TV de minhas mãos. E quando digo furiosamente, quero dizer que ela pulou da poltrona bem em cima de mim me dando um puta susto.
- Pare com isso sua escrota! – Berrei, quando vi o furacão de cabelos loiros dela avançando cada vez mais. Ela se debatia, os braços firmemente seguros pelas minhas mãos, e seus dentes estavam trincados. O controle estava atrás de minhas costas.
- Eu quero ver Hannah Montana! – Ela berrou, revoltada.
- E o que eu tenho a ver com isso? – Eu não consegui evitar a resposta mal-criada. Isso apimentou o gênio explosivo de Any.
- Seu idiota, bobo, estúpido, arrogante, prepotente, convencido, eu te odeio! Babaca, tonto, estranho… - e os elogios só continuavam.
Olhei para os quatro cantos procurando uma solução para aquilo. Eu era um garoto pacífico, mas Any me tirava do sério. Porque diabos ela não viu essa maldita Hannah Montana na TV do tio Alphonse? Encarei seus olhos castanhos querendo dar um basta naquilo. Ela estava tão furiosa que alguns fios de seu cabelo loiro estavam entrando na boca dela.
E então surgiu a idéia. A única coisa que poderia calar Any naquele momento. Era loucura, mas maior maluquice era estar perdendo meu jogo por causa daquela lactobacila gigante viva, tão branca quando um papiro desbotado. Olhei de novo para os lados e então tomei minha decisão.
Respirei fundo antes de colar minha boca na dela bem rápido.
Era estranho. E era estranho porque era macio e úmido. E era úmido porque tinha saliva.
Alguns instantes se passaram antes que eu me desse conta do que eu estava fazendo. Eu estava de olhos fechados e… argh! Eu estava beijando a chata da minha prima!
Tomado por um sentimento estranho, me afastei dela com minha melhor cara de ‘dá um fora!’. O que tinha sido aquilo? Saliva, cabelos, e duas bocas se colando.
A olhei, um pouco em choque, enquanto ela se afastava e colocava os dedos sob os lábios.
- Meu primeiro beijo – ela disse, parecendo chocada.
Cinco segundos se passaram antes que ela saísse correndo pelo corredor. Eu desliguei a TV e toquei minha boca, em choque.
Ok. Eu tinha beijado a chata histérica da Any. Só havia uma coisa para se fazer no momento...
Saí correndo para meu destino mais rápido que um foguete.
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- Meu primeiro beijo... - Eu toquei meus lábios, enquanto me encarava diante do espelho totalmente vermelha. Nunca sonhei que iria ser com o chato convencido do Thomas. Cara, ele tem o nome de umgato. Se ele aparecesse com um rato de estimação chamado Jerry eu não ia achar estranho.
Ri sozinha, me encarando no espelho totalmente vermelha. De repente o rosto do chato do meu primo me veio à mente. Sorri de lado.
- Talvez não seja só a semelhança com nome... ele realmente é gatinho... - Sussurrei, corando de leve. Suspirei e olhei para a porta, mordendo o lábio. - O que será que ele está fazendo agora?
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- Desse jeito você vai acabar com meu Listerine, Thomas! - Ouvi tio Alphonse reclamar, enquanto eu fazia mais uma fez uma higienizanação bucal caprichada. - Pra que tudo isso?
- Não queira saber! - Exclamei, colocando creme dental na escova.
Primeiro beijo. Uma palavra para descrevê-lo?
Eca.
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N.A (Nota da Autora): Agradecimento especial à Lah, que me de deu uma ajuda. brigada, mana. :)
Adorei essa, cara. Parabéns, Myhzão. <3
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