quinta-feira, 26 de agosto de 2010

such a heavenly way to die.

Era noite.

Chovia muito forte.

Eles estavam na rua.

Ela gritou.

Ele tentou explicar.

Ela não quis ouvir.

Ele pediu desculpas.

Ela gritou.

Ele tentou segurá-la.

Ela correu.

Ele viu o carro.

Ela não viu.

Ele gritou.

Ela não ouviu.

Ela finalmente viu.

Ele a empurrou.

Ela se salvou.

Ele não.

Ela o segurou.

Ele sangrava.

Ela chorava.

Ele pedia perdão.

Ela o beijava.

Ele sabia que ia morrer.

Ela também sabia.

Ele não se arrependia.

Ela se arrependia de tudo.

Ele disse que a amava.

Ela disse o mesmo.

Ele morreu.

Ela também.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

No escurinho do salão

Ok. Respire fundo, Leonardo. Você é forte. Você pode. Você é o cara, mano. O cara, tá ligado? Ninguém vai tirar aquela mina pra dançar antes de você, meu irmão!

- Leo? Quer parar de olhar pra mina desse jeito? Vai assustar a gata, bro! – Peter, meu brother, foi quem me tirou dos pensamentos psicóticos. A parada tava sinistra pro meu lado.

- Pô bicho, valeu. Tava aqui na maior viagem mano… to muito afim de dançar com ela, mas coragem, cadê? – Passei a mão pelos cabelos, nervoso. Tudo comigo, tudo comigo! Odeio esses bailes de escola. Frescurite! E pior ainda: eu sou um dos frescos que aparecem.

- Nada, mano. Vai lá e chama a mina! Tá rolando mó clima, chama a gata pra dançar meu!

- Aí meu! Vou lá. Vou lá! – Me animei todo, e com uma coragem que Deus tratou de me enviar na hora certa, me aproximei da guria e sorri, estendendo a mão. Ela me olhou meio rabo de olho, mas por fim sorriu e permitiu que eu segurasse a mão dela.

Era mó mão pequenininha, mano! Fiquei mó emocionado! Abri um sorriso besta e logo segurei ela pela cintura, pra gente dançar coladinho. A música era perfeita e quando eu vi tava no maior love com a mina. A gente trocou umas palavras aí, mas tava bom demais ter ela ali pertinho. Só lembro que ela elogiou a cor dos meus olhos. Azuis, tá ligado? Herdei algo que prestasse da minha mãe. Mas não era hora de lembrar de mãe e o lance era curtir o momento. E a mina era linda! Olhos verdes, cabelo castanho, a pele clara. Não entendi bem como uma gata daquelas foi dançar logo comigo. Devia tá meio cegueta com as luzes da festa.

E foi aí que rolou a bagaça que estragou uma noite perfeita. Tipo, algum palhaço resolveu apagar as luzes. Ficou mó breu mano! Eu me afastei da guria rapidinho, pra olhar em volta, e ela soltou da minha mão. Aí tipo, eu me aproveitei da situação, né? Puxei o braço dela de volta, com todo carinho, e beijei ela. Não tinha imaginado dá uns pega na mina ali no meio do salão, mas no escurinho do salão tudo vale…

Foi o beijo, malandro! Duvido que a mina fosse esquecer uma cena de Hollywood daquelas, mano! Mó beijo de cinema meu irmão. Ela também logo me agarrou e a gente aproveitou legal o escurinho. Mão boba ali, mão boba acolá…

Aí as luzes acenderam. E eu abri meus olhos também.

- Puta mano! Quem é você, meu? – Eu berrei, saltando pra longe da mina que tava me agarrando. A mina era loira, mano! Cadê a minha morena? Beijei a mina errada!

Ela só riu da minha cara, a desgraçada.

- Então é assim que você me acha linda, seu cafajeste? – Com as mãos na cintura, a minha mina apareceu atrás de mim com mó cara de brava.

Olhei pra ela, coçando a cabeça sem jeito.

- Sujou.

domingo, 22 de agosto de 2010

VII

Estávamos num acampamento do colégio que envolvia o ensino médio inteiro, quando me lembrei de tomar um remédio que havia esquecido no dormitório.

- Inspetora, eu preciso ir ao dormitório pegar um remédio que esqueci na minha mala.

- Não posso te acompanhar agora, Kate. E você não pode ir sozinha. – Ela disse, rígida.

- Mas eu preciso...

- Tome a chave. - Impaciente, ela me entregou um molho de chaves com a numeração de cada dormitório nelas.

Olhei para o caminho escuro e falei para minha turma de amigos que estava sentada próxima a mim:

- Alguém vem comigo?

Ninguém se habilitou.

- Ah, obrigada. Vocês são muito legais. – Ironizei.

- Eu vou com você. – Fernando se levantou e eu tentei não sorrir.

Eu gostava dele. Demais. Ok, talvez eu fosse apaixonada por ele. Ele não era um desses lindos garotos populares que saem pegando qualquer uma por aí. Ele era calado, quieto, bonitinho, e tinha uma inteligência avassaladora. Um típico nerd. Ele não sabia de meus sentimentos, nem eu tinha coragem de contar.

Fomos em silêncio, um ao lado do outro e entramos no dormitório que eu dividia com mais cinco pessoas. Fui até a minha mala e peguei meu remédio, e quando me virei de costas, Fernando estava um pouco perto demais.

- Kate, eu preciso falar uma coisa com você.

Meu coração soltou fogos, eu estava quase sorrindo e dizendo “sim, eu quero ficar com você!”, mas preferi aguardar. Tentando manter o tom natural na voz, falei:

- Tudo bem, Fernando, pode falar.

- É que... – Ele ficou sem jeito. Eu já imaginava o que estava por vir. – O Alex gosta de você.

- Ah. – O desapontamento na minha voz foi evidente. – Desconfiava...

- E ele quer ficar com você.

- Acontece que eu não gosto do Alex.

Ele pareceu um pouco assustado.

- E de quem você gosta?

Pensei bem antes de dizer isso, mas aí repeti para mim mesma: “O que tenho a perder?”, e falei logo tudo.

- Eu gosto de você, Fernando.

Dessa vez ele pareceu muito assustado. E instintivamente, como uma idéia que aparece sem precedentes na cabeça, inclinei-me em sua direção e colei nossos lábios rapidamente. Quando voltei à minha posição, olhei para ele e senti o rubor atingir minha face. Porque diabos eu tinha feito isso? Antes que eu me preparasse para correr e nunca mais olhá-lo novamente, ele disse:

- Eu também gosto de você, Kate. - Um sorriso enorme apareceu em meu rosto. – Mas não podemos ficar juntos.

Com a mesma rapidez que veio, o sorriso foi embora.

- Quê? Como assim, Fernando? A gente se gosta e...

- E o Alex é meu amigo. Não posso fazer isso com ele. – Ele olhou para baixo e disse num tom triste.

- Entendo. – O pior é que eu entendia. Poderia colocar-me na posição dele. – Tudo bem. Vamos embora, então.

Quando me dirigia à porta, porém, Fernando segurou meu braço e ainda com os olhos no chão, disse:

- Deixe-me só fazer isso pela última vez. – Então ele novamente colou nossos lábios, mas por um tempo maior dessa vez.

Então aconteceu. Alguém abriu a porta e ouvi a voz:

- Porque vocês demoram... – A última palavra ficou perdida no ar. Afastei-me de Fernando com a maior velocidade que pude, e olhei para Alex assustada.

Estávamos os três sem saber o que dizer, constrangidos. Eu e Fernando abríamos a boca, mas não saía som. Alex nos olhava abobalhado.

- Alex, eu... – Comecei, mas ele me parou com um gesto de mão. Calei-me, enquanto ele não tirava os olhos de Fernando.

Seu olhar era de alguém machucado, alguém que fora traído, e especialmente de raiva. Mas ele não me olhava, porque não me julgava. Seu ódio era destilado apenas no amigo. Ainda com a mão levantada, disse:

- Já entendi tudo. – Dito isso, virou de costas e foi embora.

O silêncio no dormitório foi constrangedor e agonizante. Não ousávamos nos encarar, Fernando continuava olhando o chão e eu com o olhar fixo na parede. Até que quebrei o silêncio.

- Foi minha culpa. Sinto muito.

- Não foi.

Comprimi os lábios, incerta sobre o que deveria fazer agora.

- Vou atrás dele. – Fernando disse, e então eu o encarei. – Vou explicar tudo.

- O quê? Fernando, se vocês fizerem as pazes, lá se vai toda a esperança que tínhamos de ficar juntos. – Minha voz subiu algumas oitavas.

Fernando me encarou indignado.

- Está pedindo para eu escolher entre você e ele?

- Não estou pedindo nada. – Minha voz voltou ao tom normal. – Só expondo os fatos.

Fernando me encarou com raiva e dirigiu-se à porta.

- Namoros vêm e vão, Kate. Amizades são para sempre.

E ele foi embora. Fiquei em choque no dormitório. Sem amigo, sem futuro namorado, e sozinha.

sábado, 21 de agosto de 2010

Verdade ou Desafio?

- Verdade ou Desafio?

- ...

- Sabe, é bom você responder logo. Caso esteja esquecendo, estamos no meio do meu quarto às duas da manhã.

- A idéia estúpida de brincar de verdade ou desafio foi sua e não minha, então, querida, por favor espere.

- É irritante esperar! Diga logo. Não temos tanto tempo assim.

- Emy, você é muito chata cara. Affe. Verdade. Satisfeita?

- Aprendi com você, John, querido. Sim, satisfeitíssima. Hm… o que rolou entre você e a Ever?

- Isso é pergunta que se faça, Emily? Porque essa agora de ex-namoradas por aqui?

- Fiquei curiosa, ué. Como sua atual namorada tenho direito de saber.

- Você sabe tanto sobre mim que poderia escrever um livro. Isso é desnecessário.

- É necessário sim, vai que um dia eu queira escrever um livro sobre você?

- Isso é ridículo.

- …

- Ok! Tá, tá. Eu a abracei e beijei. Pronto.

- Só isso?

- Como assim ‘só isso?’ Que tipo de pervertido você acha que eu sou?

- Eu não te chamei disso, você que está se auto elogiando. Mas eu esperava mais.

- Mais? Sua tarada!

- Aff…

- Francamente… verdade ou desafio?

- Desafio.

- Desafio? Você é uma covarde. E pare de girar os olhos.

- Então diga logo o que quer.

- Hm… te desafio a me beijar.

- Um beijo?

- Você queria que eu te pedisse pra tirar a roupa ou algo assim? Com quem você anda aprendendo essas coisas?

- Você é um mente poluída!

- Estou esperando.

- …

-…

- Que beijo fraco.

- Fraco?

- É.

- Bom, você pediu um beijo. Desculpe se não foi um cheio de paixão feito os de histórias de banca de revista.

- Não seja ridícula. Ande logo.

- Verdade ou Desafio?

- Verdade.

- Ok. Antes de namorarmos, o que você fantasiava sobre mim?

- De novo suas perguntas desnecessárias.

- Isso porque você tem medo de me contar essas coisas.

- Não tenho medo!

- Então conte.

- Ok… eu achava suas pernas lindas.

- Minhas pernas? Com tantas qualidades que tenho, e não são poucas, você gostava de minhas pernas?

- Se eu fosse dizer sobre o que fantasiava iríamos parar na delegacia, então é melhor você se contentar com as pernas!

- … Me pergunte.

- Verdade ou Desafio?

- Verdade.

- Certo. Em quais momentos você pensava nos meus beijos antes de tê-los só pra você?

- É uma pergunta idiota, mas vou responder. Quando estava sozinha, geralmente. Ou quando estava com Mandy, falávamos de beijos. Quando tinha prova eu nunca lembrava da sua existência. Mas eu fantasiava também sobre quem beijava melhor, você ou o Jake.

- O QUÊ? Você pensava em Jake?

- Eu disse que pensava em qual dos dois poderia beijar melhor, Mandy é namorada de Jake, não seja ridículo! E pare de gritar. Vovó vai acordar!

- Não estou gritando! Estou pasmo!

- Eu pensava em como seria beijar Orlando Bloom e Johnny Depp, e nem por isso eles estão no meu quarto às duas da manhã! Pare de ser ciumento.

- Não estou com ciúmes do imbecil do meu irmão!

- Não, eu é quem estou!

- Que barulheira é essa? Emy! O que John está fazendo aqui?

- Oi vov…

- Senhora…

- John, que raios você está fazendo aqui uma hora dessas vestindo só um mísero pijama?

- Desafio, Emily, desafio!

- Desafio você a correr, John.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

V

- Laura Kingley?

A professora chamou-me e pude perceber que ela reprimia um sorriso. Lentamente, levantei-me da minha carteira e caminhei por entre dezenas de pares de olhos curiosos que me acompanhavam, talvez mais interessados em saber minha nota na prova do que eu. Cheguei até a professora, que sussurrou um “Parabéns” enquanto entregava a nota máxima na prova de matemática. Ela não gostava que os alunos disséssemos nossas notas, mas era inevitável. Quando encarei os alunos, rapidamente me perguntaram quanto eu tinha tirado.

- A+. – Eu disse, tentando reprimir um sorriso. Não queria mostrar tanta felicidade, mas não queria fingir normalidade, apesar de encarar as coisas desse jeito.

Recebi alguns elogios, sorrisos e congratulações quando cheguei até minha banca. Eu estava muito feliz.

Internamente, eu me orgulhava, colocava-me num pódio. Eu era a melhor de todos ali. A mais inteligente, a mais esperta, eu era a melhor. Fingia humildade, pedia para pararem com os elogios, mas na verdade eu os adorava! Porque era verdade. Eu era demais.

Voltando para casa na minha bicicleta, eu sorria internamente por meus resultados. Eu tinha sido recompensada por meus esforços. Aqueles dias com a cara enfiada no livro não tinham sido em vão. Enquanto me vangloriava por isso, senti uma coisa aterrissar em meu braço. Uma coisa gelada, mole e gosmenta.

Um passarinho tinha feito cocô em mim!

Por acaso ele sabia em quem estava defecando? Eu tinha tirado A+ em matemática! Ouviu, seu passarinho imbecil? Mudei minha rota até uma praça não muito longe, e fui até a torneira. Então, comecei a pensar. O que era um A+ em matemática, senão minha obrigação? Isso me fazia uma pessoa melhor? Eu era tão inteligente assim? Não, não era. Tenho certeza que se colocassem uma prova de uma série maior em minha frente, eu não conseguiria resolver. Eu só absorvi o que o professor tinha passado em sala de aula, e isso não me fazia uma pessoa melhor. Na verdade, aquilo tudo não importava. Não importava mesmo se eu fosse a melhor da minha sala, haveria sempre alguém acima de mim. Não importava o quanto eu me achasse inteligente, haveria sempre alguém muito mais do que eu. Haveria sempre alguém disposto a fazer cocô no seu braço.

Depois de tanto refletir, dei de ombros e lavei meu braço. Pra dizer a verdade, aquilo é que não importava mesmo. Porque afinal, eu tinha tirado A+ em matemática.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

First Kiss

- Tom, posso ver Hannah Montana agora? – Any me perguntou, pela enésima vez.

A encarei um pouco irritado. Na verdade, a encarei muito irritado. Porque de novo ela estava com aquele sorriso mais falso do que os cabelos da coleção de barbies paraguais dela estampado na cara.

- Eu estou vendo o canal de esportes agora – grunhi em resposta, olhando para o jogo de Manchester City e Liverpool com muito interesse. A verdade é que o jogo estava uma porcaria, eu só queria irritar a chata da Any mesmo. Garota insuportável que nunca me deixava em paz, como eu podia ter um ser desses na família? Priminha Any pra cá, priminha Any pra lá… que mané priminha! Aquilo era um carma na minha vida. Revoltante. Em meus 12 anos de existência era um exercício conviver com aquela criatura, mesmo que por um curto período de férias.

- Mas Thomas – ela disse, e dessa vez o veneno escorreu por sua boca. – Eu quero ver Hannah Montana! – e bateu o pé no chão.

Nem a encarei. Tomara que faça um buraco no chão e tio Alphonse deixe ela sem ver Hannah Chata Montana por um mês.

- Mas não vai ver – eu abri um sorrisinho atrevido, satisfeito com meu pensamento maquiavélico.

E então aconteceu. Eu a ouvi fazer algum som estranho e no instante seguinte ela estava tentando furiosamente tomar o controle da TV de minhas mãos. E quando digo furiosamente, quero dizer que ela pulou da poltrona bem em cima de mim me dando um puta susto.

- Pare com isso sua escrota! – Berrei, quando vi o furacão de cabelos loiros dela avançando cada vez mais. Ela se debatia, os braços firmemente seguros pelas minhas mãos, e seus dentes estavam trincados. O controle estava atrás de minhas costas.

- Eu quero ver Hannah Montana! – Ela berrou, revoltada.

- E o que eu tenho a ver com isso? – Eu não consegui evitar a resposta mal-criada. Isso apimentou o gênio explosivo de Any.

- Seu idiota, bobo, estúpido, arrogante, prepotente, convencido, eu te odeio! Babaca, tonto, estranho… - e os elogios só continuavam.

Olhei para os quatro cantos procurando uma solução para aquilo. Eu era um garoto pacífico, mas Any me tirava do sério. Porque diabos ela não viu essa maldita Hannah Montana na TV do tio Alphonse? Encarei seus olhos castanhos querendo dar um basta naquilo. Ela estava tão furiosa que alguns fios de seu cabelo loiro estavam entrando na boca dela.

E então surgiu a idéia. A única coisa que poderia calar Any naquele momento. Era loucura, mas maior maluquice era estar perdendo meu jogo por causa daquela lactobacila gigante viva, tão branca quando um papiro desbotado. Olhei de novo para os lados e então tomei minha decisão.

Respirei fundo antes de colar minha boca na dela bem rápido.

Era estranho. E era estranho porque era macio e úmido. E era úmido porque tinha saliva.

Alguns instantes se passaram antes que eu me desse conta do que eu estava fazendo. Eu estava de olhos fechados e… argh! Eu estava beijando a chata da minha prima!

Tomado por um sentimento estranho, me afastei dela com minha melhor cara de ‘dá um fora!’. O que tinha sido aquilo? Saliva, cabelos, e duas bocas se colando.

A olhei, um pouco em choque, enquanto ela se afastava e colocava os dedos sob os lábios.

- Meu primeiro beijo – ela disse, parecendo chocada.

Cinco segundos se passaram antes que ela saísse correndo pelo corredor. Eu desliguei a TV e toquei minha boca, em choque.

Ok. Eu tinha beijado a chata histérica da Any. Só havia uma coisa para se fazer no momento...

Saí correndo para meu destino mais rápido que um foguete.

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- Meu primeiro beijo... - Eu toquei meus lábios, enquanto me encarava diante do espelho totalmente vermelha. Nunca sonhei que iria ser com o chato convencido do Thomas. Cara, ele tem o nome de umgato. Se ele aparecesse com um rato de estimação chamado Jerry eu não ia achar estranho.

Ri sozinha, me encarando no espelho totalmente vermelha. De repente o rosto do chato do meu primo me veio à mente. Sorri de lado.

- Talvez não seja só a semelhança com nome... ele realmente é gatinho... - Sussurrei, corando de leve. Suspirei e olhei para a porta, mordendo o lábio. - O que será que ele está fazendo agora?

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- Desse jeito você vai acabar com meu Listerine, Thomas! - Ouvi tio Alphonse reclamar, enquanto eu fazia mais uma fez uma higienizanação bucal caprichada. - Pra que tudo isso?

- Não queira saber! - Exclamei, colocando creme dental na escova.

Primeiro beijo. Uma palavra para descrevê-lo?

Eca.

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N.A (Nota da Autora): Agradecimento especial à Lah, que me de deu uma ajuda. brigada, mana. :)

III

- Acho que devemos terminar.
Carolina fitava-o com descrença. “Devemos terminar...?“. Entreabriu os lábios, mas não emitiu som. Terminar, o quê? Havia começado algo? Há quanto tempo estava num relacionamento sem perceber? Aliás, o que a impedia de perceber este fato? Por alguns segundos teve medo de que sua indiferença o estivesse machucando todo esse tempo. Logo após percebeu que não se importava. Talvez fosse esse o problema. Ela não se importava. Será que todo esse tempo ele havia se envolvido... E ela não? Enquanto perdia-se em seus pensamentos, a voz dele quebrou o silêncio.
- Às vezes parece que você me evita.
Sua resposta foi imediata.
- Não te evito.
Logo após arrependeu-se do que havia dito. Isso soava como se ela não quisesse que terminasse – terminar o quê? -, parecia que estava fazendo questão, e ela não fazia. Mas talvez o correto fosse fingir que fazia. Se já o havia machucado por tanto tempo sem perceber, não queria fazê-lo novamente, mostrando o quão descartável ele era.
- Evito maiores sentimentos. Mas não você.
- Por quê? Qual o seu medo?
- Quanto menor o vôo, menor a queda.
- Tem medo de se machucar?
Não. Carolina não se envolvia o suficiente para se machucar. Ela não se importava, era fria e indiferente.
- Sim.
Antes que ele pudesse dizer algo, fazer promessas que sabia que não podia cumprir, ou que viesse com inúteis tentativas de mudar seu jeito de ser, apressou-se em concluir.
- Então talvez você esteja certo.
- Acho que podemos dar uma chance a nós. Se eu puder te mostrar que não vou te magoar...
- Não.
- Por quê? Se o problema é em você, poderemos consertar isso...
- Não sou eu. É você.
- Eu?
- Sim, você.
- Não sou suficiente bom pra você?
- Não.
Ele suspirou e comprimiu os lábios.
- Por quê? O que falta?
Carolina olhou a hora no relógio de pulso, colocou seus óculos escuros e levantou-se da mesa.
- Tem razão. Acho que devemos terminar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Aura Rosa

- Sua aura está estranha.
Olhei para Melanie procurando vestígios de humor no seu rosto miúdo, mas não encontrei. Quer dizer, estávamos no meio da locadora de vídeos e ela me solta uma frase dessas. Suspirei. Porque eu não podia ter uma irmã normal, que me perturbasse com qualquer outra história? Garotas, romances tórridos… porque minha irmã tem que ser uma hippie maconheira, Deus?
- Mel, não começa – Grunhi em resposta, enquanto pegava qualquer filme na prateleira infantil para Bill.
- Está sim. Está meio rosada… engraçado, porque sua aura geralmente é azul. – Ela disse, não dando a mínima atenção para meu pedido.
Suspirei.
- Se você quer insinuar que sou gay, é só dizer, sabe. Mas você sabe que não é verdade, então vá procurar qualquer filme de auto-ajuda para loucos e vê se larga de maluquice – Exclamei, começando a avançar pelo corredor.
- Não é maluquice! – Ela correu atrás de mim e conseguiu me alcançar. – Sua aura está rosa!
A encarei irritado.
- Pare. Com. Isso. – Sibilei,tentando não perder o mínimo de paciência que me restava.
- Oh – ela disse, como a boa criatura estranha que era. De repente sua boca se esticou num sorriso enorme que me assustou, e ele olhou algo além de mim. – 5, 4, 3, 2, 1…
E não sei como, mas no outro instante eu estava caído no chão, os DVD’s que eu tinha pego espalhados pelo corredor, as pessoas me olhando de um jeito estranho. Exceto por Melanie, que encarava a mim e a outra pessoa com a maior cara de maníaca do mundo.
Mais curioso do que irritado, olhei para a pessoa ao meu lado, a pessoa que Melanie encarava também, além de mim.
E foi aí que aconteceu. Não sei se foram os olhos castanhos, a pele branca ou o cabelo jogado na cara. Pode também ter sido o jeito como ela me olhava; como se eu fosse a coisa mais valiosa do mundo para ela.
Só sei que no instante que encarei aquela garota que tinha esbarrado em mim no meio do corredor da locadora, senti uma coisa estranha, perdi a noção do mundo ao encará-la. Me dei conta, ali, naquele instante, que eu a queria. Que loucura.
É… talvez minha aura realmente estivesse rosa.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

I

Já era três da tarde quando acordei no sofá. Minha cabeça doía levemente assim como minhas costas, graças à desconfortável cama improvisada e o excesso de bebida na noite anterior. Sentei-me e esfreguei os olhos, tentando lembrar os detalhes da noite, mas nada vinha à mente. Desistindo, levantei-me e peguei algumas garrafas de cerveja que estavam espalhadas pela sala e fui até a cozinha. Ainda estava de jeans e com uma camiseta branca, o cabelo preto despenteado caindo sob a testa.
Joguei as garrafas no lixo e fui até o banheiro, apoiando as duas mãos na pia e me encarando fixamente no espelho. Lembrei-me de ter levado minha sobrinha de dez anos ao zoológico à tarde, no dia anterior. Fui mais fundo e descobri o motivo de tudo.
“-... Então o Augusto me beijou e...
Eu, que até então permanecia completamente alheio ao que Catherine falava, voltei minha atenção à conversa.
- Quem é Augusto?
- Meu namorado, tio. Não tá prestando atenção?
- Você tem dez anos e já tem namorado?
Ela me encarou assustada, depois ela deu um meio sorriso e olhou piedosamente, repito, piedosamente para mim.
- Ah, tio Fred, não se preocupa. Você vai achar alguém pra você.”
E agora, estou nesse estado. Não que eu fosse um desesperado, mas tinha vinte e cinco anos e continuava solteiro. Namorei sério pela última vez aos quinze anos. Enquanto minha sobrinha de dez anos tinha um namorado e ainda me olhava com olhos de piedade ao dizer que eu ainda acharia alguém pra mim.
Que se dane, ela não sabe de nada. Eu não precisava de ninguém, nascera sozinho e estava muito bem assim. Claro. Estava ótimo. Enquanto dava uma geral em mim mesmo e no apartamento, permaneci com esse pensamento: Eu estava muito bem assim.
Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde, me transportaria para o celular. Sentei no sofá e fiquei alguns minutos olhando para ele, tomando coragem para o que estava prestes a fazer. Suspirei. Não, eu estava muito bem assim. Fechei o celular e o deixei na mesa de centro, mas não saí de lá, ainda o olhando fixamente, mexendo nervosamente nas mãos. Suspirei pela segunda vez e o peguei, ainda hesitando.
Estava de olhos fechados quando a voz feminina atendeu ao telefone.
- Alô?
- Então... Catherine. Você e o Augusto. Namorando, certo?