terça-feira, 28 de setembro de 2010

Deu Casamento...

- Eu juro que vão rolar cabeças se ele não me pedir em casamento hoje!

Encarei Luísa e suspirei, deixando de lado o jornal que eu supostamente estava tentando ler.

- Olhe Lu, eu até entendo, fazem 12 anos que vocês namoram e…

- DOZE ANOS! – Luísa berrou, e quase derramei a xícara de café que segurava em cima do papel.

Luísa era uma das minhas melhores amigas, mas tinha problemas no quesito de namoro. Ela e Caio namoravam a doze anos e nunca se falou em casamento. Quer dizer, ele nunca falou em casamento. Esse era o principal motivo pelo qual Luísa não estava me deixando ler o maldito jornal em paz.

- HOJE, HOJE ele vai pedir. Preparei o jantar. Comprei um CD legal. Vou me produzir. HOJE EU VIRO NOIVA! – Ela berrou, com o olhar determinado.

- Você disse isso no último fim de semana – Murmurei, apoiando meu queixo na mão.

- Mas eu aluguei filmes de casamento! O Casamento do Meu Melhor Amigo, Casamento Grego, Vestida para casar…

- Você alugou Casamento Grego de novo? Mas é a 7ª vez e…

- EU QUERO E VOU ME CASAR!

Voltei a ler o jornal me perguntando de onde Caio tirava paciência para lidar com uma criatura tão agitada.

xxx

- Adivinha? – Murmurei, enquanto me aninhava nos braço de Tiago.

- O quê? – Ele me abraçou, enquanto acariciava meu cabelo.

- A Lu estava com aquele papo de casamento de novo – Suspirei, e Tiago deu risada. Diferente de Luísa e Caio, não tínhamos problema de casamento, porque éramos noivos.

- Outra vez? – Tiago riu mais, e suspirou, beijando o topo da minha cabeça. – Você é muito paciente com ela, Marin. Quero ver no que isso vai dar.

- Tomara que dê em casamento.

xxx

Seis horas da manhã, Domingo. Nesse exato momento o telefone tocou de um jeito tão estridente que imediatamente Marin pulou da cama, ficando de pé. Me remexi na cama com o movimento brusco dela e a olhei. Ela estava tão descrente quanto eu.

- Quem será uma hora dessas? – Perguntei, esfregando os olhos.

- Vou atender para saber – Marin murmurou, e atendeu o telefone. Não dei muita importância até que ela arregalou os olhos, um sorriso de quem achava tudo muito engraçado estampado nos lábios. – Você o quê?

A pessoa do outro lado começou a falar.

- E aí? – Ela perguntou, empolgada, quase rindo. – Oh Deus! Ok. Ok. Mais tarde a gente se fala. Beijos.

Encarei Marin com a sobrancelha arqueada.

- Quem era?

- Luísa, é claro! – Ela caiu na gargalhada, parecendo descrente.

- O que ela queria?

- Falar sobre o casamento, é claro.

- Uma hora dessas? Essa garota é louca.

- Sim, concordo plenamente. O relacionamento dela e de Caio finalmente tomou um rumo.

- No que deu, afinal de contas? Caio a pediu em casamento?

- Não.

- Ela terminou tudo?

- Não.

Arqueei a sobrancelha.

- Então…?

- Ela o pediu em casamento! A comemoração vai ser hoje, na casa dela – Marin riu escandalosamente.

Ri junto com ela, fechando os olhos. Afinal de contas, deu em casamento.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Se pudesse mudar o mundo...

Eu estava completamente nua, encolhendo os ombros, tentando esconder-me dos flashes da câmera. O homem chegou bem perto de mim e levantou meu queixo. Pensei que ele fosse compadecer-se das lágrimas que então escorriam por meus olhos. Eu comecei a tremer, e ele me deu uma tapa forte no rosto, o que me fez ir ao chão.
- Pare de chorar.
Meu corpo ainda tremia e as lágrimas queriam violentamente vir à tona, mas as repreendi. Comprimi os lábios, quando ele levantou-me violentamente pelo braço. Pegou em meu queixo novamente e o empurrou para o lado, olhando onde tinha batido há alguns segundos. Bufou.
- Droga, vai ficar vermelho. Vai atrapalhar as fotos. Senta lá, daqui a pouco você volta.
Encolhendo-me, andei lentamente até a cadeira e sentei-me, sem refrear mais as lágrimas. Outra garota que estava no estúdio tomou minha posição. Estava na mesma situação que eu, mas não chorava. O homem mexia em seu rosto e mandava que ela fizesse certas posições para tirar as fotos.
Ela deveria ter entrado nessa da mesma forma que eu. Um homem bem vestido e falando bem deve ter chegado perto dela. Esse homem deve ter começado a conversar sobre negócios. Falou de sua empresa, mostrou um site, mostrou folders e muitas outras coisas. Ele deve ter feito uma lavagem cerebral. Ela deve ter ficado alguns dias em dúvida, mas aceitou o trabalho no exterior. Ele providenciou passaporte, foi completamente cortês com ela. Uma outra mulher deve ter aparecido no aeroporto e a tratado muito bem. Deve ter sido muito gentil no avião, e no carro quando chegou aqui nos Estados Unidos. Não deve ter respondido suas perguntas sobre onde estavam indo. Deve ter segurado seu braço com força quando a empurrou para a casa, e somente nesse momento ela deve ter percebido que havia algo errado. Ele deve ter tomado seu passaporte, sua identidade e deixado-a incomunicável. Ela devia estar sido mantida em uma situação precária, num lugar sujo e mal alimentada. Eventualmente, ele deveria colocar uma venda em seus olhos e a levaria para esse lugar, essa outra casa, melhor arrumada e com uma iluminação um pouco melhor, como um estúdio, mas na verdade não o era. Onde, esse outro homem tirava fotos dela. Ela deveria sentir-se perdida. Ela deveria querer morrer. Ela sentia saudades de sua vida, e amaldiçoava aquele dia que aquele maldito homem fora oferecer-lhe um emprego. Queria mudar tudo. Queria voltar no tempo, queria poder fazer alguma coisa. Mas no momento, ela só podia refrear as lágrimas e fazer poses sensuais para aquele cara. Ela com certeza, se nem ao menos pensava nisso antes, queria por tudo acabar com o tráfico de mulheres. É.

Eu entendia sua dor.